O poder da EXPRESSÃO ou da IMPRESSÃO
Pois bem, sem a imprensa, o ser humano de nossos dias não vive. Qualquer um de nós mal acorda e já está ligando a TV, abrindo o jornal (se bem que muito poucos fazem isto), acessando a Internet... Vivemos imersos na necessidade da informação e da comunicação. Mas de que tipo de comunicação estamos falando?
A imprensa nasceu, oficialmente, com a fabricação da informação prensada no papel – de onde, evidentemente, colheu seu nome. Mas a difusão da informação já se dava pela boca de muitos arautos, pelos códices antigos, pelas cópias monásticas... Todavia, o “boom” da imprensa foi exatamente o de tornar a informação mais fácil de ser espalhada, mais acessível a um maior número de pessoas. E então, desde a impressão da Bíblia e dos primeiros panfletos, até hoje, a imprensa se tornou, mais que uma forma de comunicação, um Poder.
No contexto em que vivemos, a informação é a maior riqueza, e transmiti-la significa exercer uma atividade política. O grande agravante de nossos dias é a suspeita de que a grande massa não esteja criticamente selecionando ou avaliando o tipo de formação que tem recebido. E assim, as versões que se ouvem são tornadas verdades. E se, como diz a sabedoria popular, “quem conta um conto aumenta um ponto”, a distância entre um fato e a narrativa que dele se recebe pode ser abissal.
É fácil questionar a Bíblia, mas poucos questionam a manchete sensacionalista que leram no jornal da manhã. Dá gosto discordar do discurso dos pais, dos professores e pastores, mas essa ousadia pouco se verifica em se problematizar o que se ouviu no telejornal noturno. Estamos falando aqui de um fenômeno com duas faces: de um lado, a crise das instituições tradicionais (família, escola, religião); e de outro, a pouca criticidade com relação aos elementos que são colocados no lugar dos antigos discursos tradicionais.
A imprensa é um dom para a humanidade. Ninguém quer voltar ao tempo em que certo crime em Cafundó das Cucuias ou os terremotos no Japão jamais chegariam ao conhecimento do grande público. Entretanto, de que adianta receber mais e mais informações, saber disto e daquilo, e simplesmente “imprimir” essas informações em nosso cabedal de conhecimentos, sem desenvolver, a partir delas, um juízo crítico e criativo?
Eu não quero fazer do meu pensamento mais um “jornal” ou “noticiário”, no qual as coisas estão “imprimidas” com poucos critérios. Eu prefiro abrir mão desta “impressão” para torná-la base de “expressão”, e poder discutir as muitas informações recebidas à luz de critérios. E, pensar o dia da imprensa, me faz comemorar isto: que é muito bom ter a informação acessível aos sentidos; mas melhor ainda é fazer das mesmas informações ocasião de reflexão sobre a contemporaneidade, sobretudo sobre a moralidade. Porque, se o acesso à informação não faz um ser humano menos ingênuo, então, a imprensa está longe de cumprir seu papel de direito na sociedade ocidental.
Dilson de O. Daldoce Júnior
[i] Mestrando em Teologia pela PUCPR e em Antropologia Social pela UFPR.